quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Nós matamos o cão tinhoso


O Cão-Tinhoso tinha uns olhos azuis que não tinham brilho nenhum, mas eram enormes e estavam sempre cheios de lágrimas, que lhe escorriam pelo focinho. Metiam medo aqueles olhos, assim tão grandes, a olhar como uma pessoa a pedir qualquer coisa sem querer dizer.

O Cão-Tinhoso devia estar à espera de qualquer coisa diferente do que os outros cães costumam ter... (Luís Bernando Honwana)

Olhos, não mais "os de ressaca", olhos de cão que parece gente, ou será dessa gente que parece cão? Não sei - olhei-me ao espelho - um reflexo perverso interpela-me, não fosse a sútil distinção entre claros e escuros, diria que já havia visto aquele estranho olhar conhecido. Reflexo daltônico, azuis ou castanhos, nada mais que significantes vazios, diferença extinta. Universal singularidade, olhos pedintes - olhos, não mais "os de ressaca" - agora olhos tinhosos... Ocular sobrevivente.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Um andar solitário



Eu tenho uma solidão

Por andar sempre acompanhada

Por isso me sinto só e

Acho que isso não é sentimento é realidade.

Eu sou aquela que passa...

Passa como quem tudo pode e nada precisa

Mas que precisa passar e parecer forte

Precisa disso como a planta precisa de luz e

Por isso sou carente por excelência.